BAUMAN: O FENÔMENO INTELECTUAL PÓS-MODERNO
Por Naildes Medeiros Fernandes
Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi/ Zygmunt Bauman
Por Naildes Medeiros discente especial do Programa de Mestrado em Estudos Linguísticos UNEMAT- Sinop-MT profnaildesfernandes27@gmail.com
O presente texto faz parte das discussões referente ao livro citado, na disciplina de Letramento e Sociedade, em que cada aluno ficou responsável por uma pergunta referente a entrevista do livro.
No texto sobre identidade, Bauman inicia com um relato sobre o recebimento do título de doutor honoris causa, quando pediram a ele que escolhesse qual hino tocar: hino da Grã-Bretanha ou da Polônia... e que segundo ele não foi fácil encontrar a resposta. Primeiro porque a Grã-Betanha foi o país que escolheu e foi escolhido para lecionar, pois não poderia permanecer na Polônia, pois tinha sido privado de sua cidadania polonesa, então diante disso não tinha direito ao hino polonês.... Quem o ajudou a decidir foi sua companheira de toda vida, Janina, em que Bauman fala sempre dela com muito carinho, em que a mesma é a autora do livro intitulado Dream of Belonging (o sonho de pertencer), encontrou a solução: o hino europeu. Foi um momento que ele se sentiu “includente” e “excludente”, nesse pequeno episódio, na sua identidade que lhe fora negada. “As pessoas em busca de identidade se veem invariavelmente diante da tarefa intimidadora de alcançar o impossível”. (pag. 16). “Se não tivesse negado, dificilmente lhe ocorreria indagar-me sobre a minha identidade.” (pag. 17). A questão de identidade surge com a exposição no mundo de diversidade policultural.
O pertencimento e a identidade, não tem solidez, não são garantidos para toda vida, são bastante negociáveis e revogáveis, “um monte de problemas da nossa era líquido-moderna”, um mundo repartido em fragmentos mal coordenados, enquanto existências individuais, pois poucos de nós, são expostos uma comunidade de ideias e princípios genuínos, e muitas vezes somos sobrecarregados de identidade. As identidades flutuam, algumas de nossa própria escolha e outras lançadas por pessoas a nossa volta, num sonho de pertencimento com substância de identidade individual.
Assertiva referente as páginas 68 a 76
Nesse reembaralhamento, até as formas básicas de relacionamento social estão passando por uma mutação. Das relações amorosas à religião, tudo se torna instável, líquido. Mas como é a que estão mudando as relações amorosas?
As relações interpessoais, com tudo que acompanha, amor, parcerias e compromissos, são simultaneamente objetos de atração e apreensão, desejo e medo inquietação e ansiedade. Adquiriu-se a “ideia de viver sem vínculos”, relacionamentos “sem compromissos”, nessa sociedade líquido-moderna. Segundo Bauman, amar significa fundir duas biografias, cada qual portando uma carga diferente de experiências, seguindo seu próprio rumo. Fazer-se dependente de outra pessoa dotada de liberdade e escolha.
Porém todos os recursos pagos que a sociedade de consumo nos acostumou está ausente no amor. O “modo consumista” requer que a satisfação seja momentânea. O entrevistado cita um hábito comum de presentes no Natal para as crianças inglesas que são filhotes de cães, por serem adaptáveis aos ambientes e rotinas familiares. Segundo ele, a expectativa de vida desses animais deveria começar a reduzir de quinze anos para três meses, pois este é o tempo médio que os cães são recebidos com alegria e depois são abandonados e descartados. Então tal como os animais de estimação, são assim também os relacionamentos humanos “largar o parceiro” como fosse um acontecimento normal. Um acontecimento tão natural quanto a morte é para a vida. “Até que a morte nos separa” foi substituída, no decorrer da libertação individual, numa relação que só dura enquanto permanece a satisfação a ambos parceiros, e nem um minuto a mais. E os parceiros estão livres para buscarem satisfação em outro lugar. Somos moldados, treinados e educados, numa educação continuada para sociedade consumidora, num ambiente líquido moderno.
Por isso, muitas vezes a solução imediata está na busca nas redes, pois se algo der errado, basta deletar, pois no encontro presencial, não é possível descartar com tanta facilidade do parceiro indesejado. O envio e recepção de mensagens, elimina a troca o diálogo genuíno, que se ajusta ao líquido moderno das identidades fluídas em que o mais importante é acabar depressa, seguir em frente e começar de novo, sempre com novos desejos tentadores a fim de sufocar e esquecer os desejos de outrora.
Por Naildes Medeiros discente especial do Programa de Mestrado em Estudos Linguísticos UNEMAT- Sinop-MT profnaildesfernandes27@gmail.com.
Profª você acha que falo ‘erado’?
Essa foi a pergunta angustiante que uma operadora de caixa de farmácia me fez quando disse a ela que pretendia fazer uma pesquisa sobre preconceito linguístico. Então, resolvi colocá-la como título do presente texto. A jovem em questão, me fez esta pergunta com muita tristeza nos olhos, pois segundo ela é muito criticada no seu ambiente de trabalho a respeito do seu dialeto, sendo muitas vezes ofensivo ou taxado de engraçado.
Diante de episódios como esse, vemos que exclusão linguística é muito reafirmada por suportes de comunicação social de massa, pois apresentam forte papel normatizador, como a televisão, o rádio e as revistas, pois têm a intenção de ensinar o que é certo e o que é errado, assim como as gramáticas e os livros didáticos (BAGNO, 1999, p. 13), deixando à margem o falante ativo da língua, que absorve em seu inconsciente que seu modo de falar é errado. Esses meios não levam em consideração que “todo falante nativo de uma língua sabe essa língua. Saber uma língua, no sentido científico do verbo saber, significa conhecer intuitivamente e empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento dela”. (BAGNO, 1999, p. 35).
Outro fator também excludente, da questão linguística, refere-se muito ao aspecto sócio financeiro, onde quem possui um maior poder aquisitivo tem a sua cultura mais valorizada, não apenas no fator linguístico, isso também acontece no modo de vestir, andar, agir, na postura que esses indivíduos assumem perante a sociedade. Por isso que Bortoni-Ricardo (2005, p.15) afirma: “o caminho para uma democracia é a distribuição justa de bens culturais, entre os quais a língua é o mais importante”.
Há muito preconceito decorrente do valor atribuído às variedades padrão e ao estigma associado às variedades não-padrão consideradas inferiores ou erradas pela gramática. Essas diferenças não são imediatamente reconhecidas e, quando são, são objeto de avaliação negativa.
Para cumprir bem a função de ensinar a escrita e a língua padrão, a escola precisa livrar-se de vários mitos: o de que existe uma forma ‘correta’ de falar, o de que a fala de uma região é melhor do que a de outras, o de que a fala ‘correta’ é a que se aproxima da língua escrita, o de que brasileiro fala mal português, o de que o português é uma língua difícil, o de que é preciso ‘consertar’ a fala do aluno para evitar que ele escreva errado. (PCN, apud, BAGNO, 1999, p.75)
Por isso a Sociolinguística ou Teoria da Variação surge a partir da constatação da importância da fala, e sua preocupação é observar o fenômeno linguístico em sua abrangência dialetal e variacional, observa como a língua funciona em um contexto de fala, e quais os fatores que influenciam para que as mudanças linguísticas ocorram.
Os estudos sociolinguísticos emergem a partir de 1964 com a realização de um congresso na Universidade da Califórnia, no estado de Los Angeles, Estados Unidos. Esse congresso foi organizado por William Bright, e contou com a participação de importantes figuras nos estudos da Sociolinguística mundial: William Labov, Dell Hymes e John Gumperz (SOUSA, 2005, p.153). Desse congresso resultou a coletânea Sociolinguistic (Sociolinguística). Nesta obra, os linguistas procuram estudar a diversidade linguística na estrutura social. Eles privilegiam a fala que é estudada através de “orientações contextuais”, ou seja, “os lexemas estão inseridos em um contexto a partir do qual se conhece o sentido dos termos e sua aplicação no dia a dia daquela sociedade” (ALKMIM, 2001, p.24).
Esse estudo leva em consideração a língua como algo social, pertencente a todos os indivíduos de uma comunidade. A Sociolinguística concebe a língua como uma estrutura viva, que se diversifica dependendo da região onde é empregada, ou seja, ela possui um caráter heterogêneo. A respeito deste tema Bortoni-Ricardo (2005, p.20) afirma: “A Sociolinguística se ocupa principalmente das diversidades nos repertórios linguísticos das diferentes comunidades conferindo às funções sociais que a linguagem desempenha a mesma relevância até então se atribuía tão-somente aos aspectos formais da língua”.
A língua é um patrimônio histórico-cultural, por isso varia no tempo e no espaço. Mesmo sendo única em um país, como o Brasil, tem suas variações dependendo do local e do objetivo do falante no momento da fala.
Classificação das variedades linguísticas
Segundo Bagno (2007 p. 48), as variedades linguísticas estão classificadas em: dialeto, socioleto, cronoleto e idioleto.
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Dialeto – esse termo designa o modo que caracteriza o uso da língua falada em um lugar determinado, envolve variedades de pronúncia, gramática e vocabulário;
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Socioleto – se refere à variedade característica de um grupo que compartilha de um mesmo universo sociocultural, sejam relações de trabalho, nível cultural, posição econômica, etc.;
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Cronoleto – diz respeito a variedade utilizada por falantes de uma idade, ou melhor, de uma geração;
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Idioleto – designa a individualidade na fala de um indivíduo, seu repertório vocabular, seu modo de pronunciar as palavras, de elaborar as sentenças, etc.
Para melhor entendermos a questão das variedades linguísticas não se pode deixar de mencionar uma frase de Bagno (2007, p. 48) “todas as variedades linguísticas se equivalem, todas têm sua lógica de funcionamento, todas obedecem a regras gramaticais que podem ser descritas e explicadas”, então, não podemos afirmar que existe falar melhor, mais bonito, todos são o Português agindo no inconsciente dos falantes.
Vertentes da Sociolinguística: Interacional e Variacionista
A Sociolinguística Interacional procura estudar “o uso da língua na interação social face a face” (SOUSA, 2005, p. 157), busca analisar o modo de agir do falante no momento da interação, e isto depende de vários fatores, como: com quem se fala, sobre o que se fala, o local da conversa e a circunstância do momento da fala.
A Sociolinguística Variacionista foi introduzida em nosso meio por William Labov (1927), que designa de Variacionista a vertente que busca analisar os fatores linguísticos em um contexto social, ou seja, leva em consideração fatores como a idade, o sexo, o nível social, a origem étnica, etc. Ele afirma que essas características do locutor (falante) e do interlocutor (ouvinte) podem influenciar no modo como o indivíduo usará seu repertório ao se comunicar.
A variação linguística analisa a língua como um objeto histórico-cultural, que varia no tempo e no espaço. Assim, em um país como o Brasil, mesmo sendo única, a língua não é usada da mesma forma por todos os falantes, há diferenças fonológicas, morfossintáticas e semânticas nas diversas regiões, e isso ocorre como já foi citado, em função da extensão territorial do país que não permite um contato profundo entre as regiões que estão nos extremos e da “trágica injustiça social”, que desmerece o falar do menos favorecido financeiramente (BAGNO, 1999, p. 16).
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística. 6.ed. São Paulo: Contexto, 2000.
______. Preconceito linguístico: O que é, como se faz. 15.ed. São Paulo: Loyola, 2002.
______. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
BAGNO, Marcos (Org.). Linguística da norma. 2. ed. São Paulo, Edições Loyola: 2004.
BAGNO, Marcos; GAGNÉ, Gilles; STUBSS, Michael. Língua materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola, 2002.
BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. São Paulo: Parábola, 2008.