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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NAS SÉRIES INICIAIS

 

Patrícia da Silva Batista

Homerina Terezinha Pinto

Lucas Gonçalves de Oliveira Alves

 

 

Resumo

A presente pesquisa visa compreender melhor o processo de alfabetização e letramento no ensino fundamental, evidenciando os caminhos que o alfabetizador necessita percorrer para que possa alcançar resultados positivos na sua busca. Para isso foi necessário abordar o processo histórico da alfabetização e letramento bem como sua política educacional relacionados à leitura e escrita. Utilizou-se de revisão bibliográfica. O aspecto teórico e metodológico dessa pesquisa baseia-se nos novos estudos referente ao letramento onde propõe uma análise dados referente a iniciativa de aumentar o tempo de escolaridade no ensino fundamental para nove anos objetivando alcançar melhorias na alfabetização referentes a leitura e escrita dos alunos brasileiros. Este artigo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica e tem por objetivo compreender a importância do alfabetizar letrando e a necessidade em desenvolvê-las nas séries iniciais, além de identificar o papel que as práticas de letramento desempenham em relação aos indivíduos que iniciam a trajetória escolar.

 

PALAVRAS-CHAVE: Letramento; Alfabetização; Função do Professor.

 

 

INTRODUÇÃO

 

A educação brasileira tem urgência de reverter o quadro de carência na formação da criança, especialmente no que diz respeito à maior autonomia para se desenvolver em relação ao conhecimento e com competência comunicativa suficiente para enfrentar as necessidades decorrentes de variadas situações de interação.

 

Entende-se que o processo de alfabetização e letramento são indissociáveis e devem caminhar juntos, tendo em vista que o aluno alfabetizado é aquele que conhece o código escrito, sabe ler e escrever. O papel da escola nesse processo é fundamental. O ensino da Língua Portuguesa constitui-se em um instrumento de apoio para o desenvolvimento pessoal, social e cognitivo do indivíduo, pois confere a capacidade e a autonomia necessárias para a apropriação de saberes organizados pela língua àqueles que se apropria efetivamente da condição de leitor proficiente, de produtor de textos eficiente e de usuário competente da língua nas diversas situações de comunicação orais ou escritas.

Desse modo, letramento, designa a ação educativa de desenvolver o uso de práticas sociais de leitura e escrita em contextos reais de uso, inicia-se um processo amplo que torna o indivíduo capaz de utilizar a escrita de forma deliberada em diversas situações sociais

 

Assim, ler, escrever ouvir e falar são objetivos fundamentais da Educação básica e devem se constituir em um dos eixos organizadores das relações interdisciplinares e das propostas e práticas pedagógicas na escola.

 

Letramento e alfabetização

O processo de alfabetização tem passado por muitas transformações nas últimas décadas. No Brasil, principalmente a partir de 1970, os estudos psicogenéticos de Piaget interferiram radicalmente na visão que se tinha a respeito da aprendizagem. O foco dos estudos passa então do processo de ensinar para o processo de aprender, vinculado ao desenvolvimento do indivíduo.

 

Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é aquele que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita. Alfabetizar letrando é ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, assim o educando deve ser alfabetizado e letrado.

 

Não podemos separar os dois processos, pois a princípio o estudo do aluno no universo da escrita se dá concomitantemente por meio desses dois processos: a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades da leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o letramento.

 

Historicamente, o conceito de alfabetização se identificou ao ensino-aprendizado da tecnologia da escrita, que quer dizer, do sistema alfabético de escrita, o que, em linhas gerais significa, na leitura, a capacidade de decodificar os sons da fala, transformando-os em sinais gráficos.

 

A partir dos anos 1980, o conceito de alfabetização foi ampliado com as contribuições dos estudos sobre psicogênese da aquisição da língua escrita, particularmente com os trabalhos de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. De acordo com esses estudos, o aprendizado do sistema de escrita não se reduziria ao domínio de correspondências entre grafemas e fonemas, ou seja, a codificação e a decodificação, mas se caracterizaria como um processo ativo por meio do qual a criança, desde seus primeiros contatos com a escrita, construiria e reconstruiria hipóteses sobre a natureza e o funcionamento da lígua escrita, compreendida como um sistema de representação. “PRÓ-LETRAMENTO, fascículo 1, p. 10”.

 

Nesse sentido a alfabetização deixa de ser considerado mero processo de codificação e de decodificação de sinais gráficos no ensino da leitura/escrita; a compreensão da função social da escrita assume o papel de eixo estruturador da alfabetização e o aluno passa a ser sujeito de seu aprendizado e, no processo, atribui significados à escrita além de compreender o contexto em que a escrita se insere processos de interlocução real que fazem uso da leitura e da escrita para a comunicação.

 

Letramento

O termo letramento foi inicialmente empregado no Brasil em 1986 pela professora Mary Kato (1986)- “O uso da língua é consequência do letramento”. Progressivamente o termo passou a designar o processo não apenas de ensinar e aprender as habilidades de codificação, mas também o domínio dos conhecimentos que permitem o uso dessas habilidades nas práticas sociais de leitura e escrita. “PRÓ-LETRAMENTO, fascículo 1,p. 10”.

 

Atualmente, os avanços das pesquisas na área da psicogenética, associadas às pesquisas nas áreas da linguística textual, da análise do discurso, da psicologia, da psicopedagogia e da sociolinguística, trouxeram transformações para a reflexão sobre os processos de alfabetização inicial.

 

São ressignificadas práticas pedagógicas que não apenas envolvem a criança no estudo/apropriação do sistema de escrita como também a levam, desde o início do processo de escolarização, a vivenciar as práticas de leitura de escrita como práticas sociais relevantes para o seu desenvolvimento, pois estão contextualizadas em situações reais de uso.

 

O envolvimento em práticas sociais reais de uso leva a escola a refletir sobre outra exigência: as práticas sociais têm sua gênese em práticas culturais que não podem ser ignoradas pela escola sob o risco de alienar o processo educativo da sociedade em que o cidadão está inserido. A leitura e a escrita são frutos também dessas práticas e por isso é preciso pensar sobre a alfabetização numa dimensão mais ampla do que o processo especifico de apropriação do sistema alfabético. Daí a relevância da concepção de letramento.

 

Alfabetizar letrando.

As pesquisas sobre letramento se intensificaram a partir da década de 1980, e atualmente é consenso que os conceitos de letramento e alfabetização são indissociáveis.

 

Em 1988, foi apresentado um estudo mais sistemático sobre letramento pela professora Leda Verdiani Tfouni, que reafirma que os conceitos estão intimamente ligados no processo de alfabetização tanto o sentido amplo pleno domínio das práticas de leitura, quanto o sentido escrito mais vinculado aos anos iniciais do Ensino Fundamental.

 

Não se trata de escolher entre alfabetizar ou letrar, trata-se de alfabetizar letrando. Também não se trata de pensar os dois processos como sequenciais, isto é, vindo um depois o outro, como se o letramento fosse uma espécie de preparação para a alfabetização, ou então como se alfabetização fosse condição indispensável para o início do processo. “PRÓ-LETRAMENTO, fascículo 1, p. 12”.

 

O domínio do sistema alfabético deve ser incorporado pelo aluno em situações que aproximem ou insiram em vivências sociais reais que envolvam essas práticas. Aqui se aproximam os conceitos: Letramento - envolvimento em práticas sociais e culturais que pressupõem a escrita, e Alfabetização – em sentido escrito, apropriação do sistema alfabético de escrita.

 

A expectativa é que a escola não perca a dimensão de que é necessário alfabetizar letrando. As crianças elaboram hipóteses e ideias antes de compreender o sistema escrito em sua complexidade.

 

Soares (2004) explicita que é preciso repensar as práticas de ensino que têm predominado em muitas escolas, esclarecendo a distinção entre o que é letramento e o que é alfabetização, e desvendando as principais facetas de cada um desses termos. Segundo a autora, letramento diz respeito à imersão do indivíduo na cultura escrita, à sua participação em eventos diversos que envolvem a leitura e a escrita, bem como ao contato e à interação com diferentes tipos e gêneros textuais. Já a alfabetização envolve o processo da consciência fonológica e fonêmica, a construção das relações som e letra e o aprender a ler e a escrever alfabeticamente.

 

As crianças elaboram hipóteses e ideias antes de compreender o sistema escrito em sua complexidade. As pesquisas de sobre letramento encaminham para outras reflexões, principalmente as de que as hipóteses sobre a escrita elaboradas pelas crianças não são iguais na mesma faixa etária, mas dependeram do grau de letramento, levando em consideração que nas sociedades urbanas modernas não existe grau zero de letramento, do ambiente social em que estão inseridas, das práticas sociais de leitura, de fala, de escuta e de escrita que têm a chance de vivenciar em seu cotidiano.

 

A alfabetização passa a ser encarada como um processo de simbolização na escrita, ou seja, a criança deve percebê-lo na medida do desenvolvimento da alfabetização. Esse desenvolvimento estará em íntima relação com o grau de letramento em que essa criança se encontra.

 

O sujeito alfabetizado nem sempre é letrado:

Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita (SOARES, 1998, p. 40).

 

Codificar e decodificar a língua escrita são insuficientes para experienciar de forma plena a cultura escrita e responder às demandas do meio social. É necessário o sujeito também letrar-se, ou seja, dominar não só a arte de ler e escrever, mas também ser capaz de lidar autonomamente com os usos cotidianos da leitura e da escrita em contextos variados.

 

Além da característica alfabética de nossa língua, os alunos têm ainda de adquirir noções claras sobre o sistema notacional e as relações de interdependência morfológica e sintática nos enunciados.

 

Os estudos têm esclarecido a profunda relação de interdependência entre a oralidade e a escrita no sistema da língua portuguesa. Na alfabetização, as relações entre sons e letras (fonemas e grafemas) representam um momento de percepção fundamental para que as crianças compreendam parte das relações entre o que se fala e o que se escreve. É parte do desenvolvimento da consciência fonológica.

 

Além de estabelecer relações de aproximação ou de distinção entre a língua e escrita, é essencial que a criança desenvolva outras percepções para a aquisição da consciência fonológica: relações oralidade-escrita, equivalências fonemas-grafemas ou, mais simplesmente, sons-letras e reconhecimento de palavras escritas.

O desafio que se coloca para os primeiros anos da Educação Fundamental é o de conciliar esses dois processos alfabetizar e letrar, assegurando aos alunos a apropriação do sistema alfabético-ortográfico e condições possibilitadoras do uso da língua nas práticas sociais de leitura.

 

Por outro lado, deixar de explorar a relação extraescolar dos alunos com a escrita significa perder oportunidades para a integração social e o exercício da cidadania. Sendo assim, entende-se que a ação pedagógica mais adequada e produtiva é aquela que contempla, de maneira articulada e simultânea, a alfabetização e o letramento. “PRÓ-LETRAMENTO, fascículo 1, p. 12-13”.

 

A formação do leitor proficiente

A leitura é uma prática essencial na vida do homem em sociedade. Em virtude disso, surgem muitas discussões em torno de sua importância para formação de um sujeito leitor com pensamentos críticos, isso porque a leitura possibilita a inserção e a participação ativa do homem no âmbito social, sendo assim essa prática deve ser desenvolvida desde cedo, sobretudo no espaço escolar.

 

Delmanto (2009) ressalta que a escola deve ter a preocupação cada vez maior com a formação de leitores, ou seja, a escola deve direcionar o seu trabalho para práticas cujo objetivo não seja apenas o ensino de leitura em si, mas desenvolver nos alunos a capacidade de fazer uso da leitura (com também, da escrita) para enfrentar os desafios da vida em sociedade e, a partir do conhecimento adquirido com essa prática e com suas experiências, continuar o processo de aprendizado e ter um bom desempenho na sociedade ao longo da vida.

 

Diante das diversas transformações com as quais convivemos a autora ainda sobrepõe que, a escola precisa, mais do que nunca, fornecer ao estudante os instrumentos necessários para que ele consiga buscar, analisar, selecionar, relacionar e organizar as informações complexas do mundo contemporâneo.

 

Sendo assim, compreendemos que a leitura é um método que não está restrito apenas ao âmbito escolar ou somente um meio para obter informações, mais do que isso, a ela deve ser uma prática que todos possam usá-la na própria convivência com o meio social. Todavia, observa-se que, em muitas escolas, a leitura ainda é desenvolvida a partir da influência de muitos modelos tradicionais ou concepções errôneas de leitura. Solé (1996, p.33) discorre sobre essa problemática e esclarece que o problema do ensino de leitura na escola não se situa no nível do método, mas na própria conceituação do que é leitura, da forma em que é avaliada pelas equipes de professores, do papel que ocupa nos Projeto Curricular da escolar, dos meios que se arbitram para fortalecê-la, naturalmente, das propostas metodológicas que se adotam para ensiná-la.

 

Desse modo, vemos que é preciso adotar métodos, criar situações que possibilitem aos alunos a capacidade de desenvolverem diferentes capacidades de leitura. Sobre isso, Delmanto (2009) considera que devemos ensinar, além da decodificação, a compreensão, apreciação do texto, assim como a relação do leitor com o texto. A autora acrescenta que se os educadores propuserem atividades visando a esses objetivos, os alunos serão capazes não apenas de localizar informações, mas de relacionar e integrar as partes do texto, de refletir sobre os seus sentidos – captando as intenções informações implícitas, de perceber relações com outros contextos, assim como de gerar mais sentidos para o texto e de valorar os que leem de acordo com seus próprios critérios.

 

Conclusão

De acordo com este trabalho pode-se concluir que a escola tem papel fundamental no processo de alfabetização do aluno, haja vista que o processo de alfabetização e letramento são indissociáveis e devem caminhar juntos levando em conta que o aluno precisa reconhecer os códigos escritos para então ler.

 

Vale ressaltar que quanto antes as crianças se apropriarem da leitura e da escrita, mais poderão desenvolvê-la com êxito durante seu percurso escolar.

 

Alfabetizar letrando é ensinar a criança a ler e a produzir textos em uma situação real de comunicação. Sendo assim o trabalho pedagógico precisa ser organizado de maneira que os alunos vivenciem a prática da leitura e da produção de textos diversos em sala de aula.

 

Sendo assim constitui-se um trabalho feito pelo educador e também pelas pessoas que participam do aprendizado da criança, requerendo mudanças significativas acerca de práticas pedagógicas através do ensino da leitura e da escrita para o seu aprimoramento nas séries iniciais.

 

Referências

DELMANTO, Dileta. A leitura em sala de aula. Construir Notícias, Recife, ano 08, n. 45, p. 24- 26, mar./abr. 2009.

 

KATO, Mary. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. São Paulo: Ática, 1986.

 

Queiroz Cristina. Leitura em sala de aula: A formação de leitores proficientes. Disponível em: http://webartigos.com/artigos/leitura-em-sala-de-aula-a-formacao-de-leitores-proficientes/18067#ixzz4khGdBCd0. Acesso em 13 de maio de 2009.

 

SOARES, M. Letramento: como definir, como avaliar, como medir. In: SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

 

SOARES, Magda. Letramento e Escolarização. In: RIBEIRO, Vera Masagão (Org.). Letramento no Brasil. São Paulo: Global, 2004. 287 p.

 

SOLÉ, L. Estratégias de Leitura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996

TFOUNI, Leda Verdiani. Adultos não-alfabetizados: o avesso do avesso. Campinas: Pontes, 1988.

 

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004b. http://unifafibe.com.br/revistasonline/arquivos/cadernodeeducacao/sumario/31/04042014074426.pdf http://www.iptan.edu.br/publicacoes/saberes_interdisciplinares/pdf/revista12/ALFABETIZAR_LETRANDO.pdf

 

SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, n.25, jan.-abr./2004. TFOUNI, L. V. Letramento e alfabetização. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1995.

 

 

Para fazer citação a este trabalho utilize a bibliografia abaixo:

ALVES, Lucas Gonçalves de Oliveira. BATISTA, Patrícia da Silva. PINTO, Homerina Terezinha. A influência das novas tecnologias no ensinoaprendizagem da Língua Portuguesa escrita. Revista Científica Cognitio, on-line, Mato Grosso, N. 03, Jul. 2017. <http://aces4r.wixsite.com/revistacientifica/ed-3-art-3>. Data de acesso: 

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