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A LÓGICA DA EVOLUÇÃO BIOLÓGICA DO ENSINO MÉDIO

Francisco Antonio de Oliveira Filho[1]

chicodeoliveira@yahoo.com.br

 

RESUMO

 

Discutem-se possível oposição que o ensino da evolução encontra nos âmbitos escolares com a ideia de aponta evidências geradoras dessas posturas responsáveis por tal oposição. Assim, investigou-se o nível de aceitabilidade e de conhecimento da Evolução Biológica entre sujeitos que tem como formação o Ensino Médio. O objetivo desta pesquisa foi analisar os porquês do baixo índice de aceitação deste processo para explicar a diversidade biológica. As informações foram coletadas na forma de entrevistas estruturadas e teve como palco de coleta de dados a Escola Técnica Estadual de Sinop, ligado a Secretaria de Ciência e tecnologia do Estado de Mato Grosso. Encontraram-se dados a respeitos dos conhecimentos apresentados pelos indivíduos com nível educacional médio, os julgamentos desses como relação às divergências entre Criacionismo e Evolucionismo e a religião que eles seguem. É possível perceber que quanto mais religioso, menor será o conhecimento com relação aos eventos básicos deste tema e, isso, é mais evidente no grupo dos evangélicos. Assim, este trabalho nos dá uma visão de como é visto um dos temas estruturadores da Biologia por alunos com formação média. 

 

Palavras chaves: Evolução, Ensino Médio e Conhecimento. 

 

 

INTRODUÇÃO

 

Objetivando investigar o nível de conhecimento dos alunos de nível médio dos cursos técnicos da Escola Técnica Estadual de Sinop/MT, e o que esses pensam com relação à Evolução Orgânica, realizou-se está pesquisa e elaborou-se esse artigo científico como trabalho de conclusão de curso.

 

Dentre as possibilidades que temos para explicar a diversidade biológica, os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) apresenta a teoria da Evolução Biológica para explicar a diversidade das espécies (PCNEM, 2006). Segundo os autores dos PCNs, alunos devem ter a competência de estabelecer relações que o leve a perceber que os sistemas organizados e integrados se perpetuam por meio da reprodução e se modificam no tempo em função do processo evolutivo, e esse processo é um dos temas estruturadores e centrais na Biologia.

 

Atualmente a Teoria Sintética da Evolução Biológica é a melhor explicação para entender a diversidade biológica (Goedert, 2004). Pois, conforme Darwin já havia feito, a seleção natural é o evento que filtra as características melhor adaptadas para um determinado meio permitindo que elas se perpetuem, somente sendo possível após alterações a nível molecular que permitam ajustes no genoma para a adaptação da espécie.

 

Nenhum debate científico recente tem posto em dúvida o fato ou a realidade objetiva da Evolução Biológica, embora haja divergências a propósito de sua reconstituição histórica ou sobre seus mecanismos causais (Carneiro, 2004).

 

Pacheco e Oliveira (1997) apud Carneiro (2004), afirmam que apesar da Evolução Biológica ser um tema central em Ciências Biológicas, ela não tem merecido muita consideração no ensino de Biologia e, às vezes, é reprimida pela ideologia religiosa que domina a educação no Brasil e no mundo.

 

A Evolução Biológica, de certa forma, entra em conflito com as crenças populares, sendo de senso comum uma percepção que os indivíduos têm do meio, sem o aval científico, que pode ser impregnado por crenças populares e religiosas. O conhecimento científico usado de forma incorreta pode levar a esse tipo de conhecimento, muitos pensam que os humanos descenderam dos macacos e não que os macacos e os humanos tenham um ancestral comum na Historia Evolutiva (Carneiro, 2004).

 

Devido aos preconceitos com relação à Evolução das espécies foi investigado a influência religiosa e o nível de conhecimento dos sujeitos com relação a essa teoria para que os educadores possam fazer algo a respeito. 

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

A Evolução Biológica é um tema polêmico e difícil de compreender que se sustenta na mutabilidade das espécies e na Seleção Natural (Fernandez, 2000). A polêmica fica evidente nas questões que exigem conhecimento e entendimento dos alunos. Na amostra analisada a média de acerto para as questões ligadas a Evolução Orgânica talvez não seja a adequada para um julgamento sem preconceito com o tema. Prova disso é a questão que trata das divergências entre Evolução Biológica e Criacionista.

 

Como relação ao conhecimento básico para saber o que é evolução, sem enfatizar suas divergências com o Criacionismo, apenas 12 (40%) alunos, em uma amostra de 30, responderam que a Evolução se fundamenta na alteração do material genético e na seleção natural para explicar a diversidade biológica (Figura 1)[2]. É importante ressaltar que ainda existam pessoas com Ensino Médio que veem a Evolução Biológica como uma teoria que sustenta o surgimento dos humanos a partir do macaco. Contudo 36,67% dos alunos acham que a Evolução Biológica é uma teoria que trata de origem da vida, quando esta deixou de ser uma teoria para ser encarada como um fato, explicando a diversidade biológica partindo de vida já existente (Futuyma, 1995). Outros 10% afirmaram que a evolução, além de tratar da origem da vida, também explica o surgimento da Terra (Figura 1).

 

Com relação às divergências entre Evolução Biológica e Criacionismo (Figura 2) só 20% dos discentes afirmaram que mutabilidade e imutabilidade são focos de divergência entre essas linhas de pensamentos que, de acordo com Futuyma (1995), é em torno da mutabilidade das espécies que está a divergência e não em relação a criação. Neste item, a maioria dos entrevistados respondeu que a divergência estava em torno de quem criou a vida, 56,67%, e outros 23,33% afirmaram que era a possibilidade de o homem ter evoluído a partir do macaco, inaceitável para os cristãos, mas a Evolução não se sustenta nisso e sim, que as espécies são mutáveis ao longo do tempo e possíveis de serem selecionadas de acordo com adaptabilidade em determinado meio (Carneiro 2004). É interessante notar que nesta questão aparece a possibilidade de defender Deus e a maioria dos entrevistados, apesar de desconhecer a divergência entre as duas linhas de pensamento, sai em defesa do Criador, entre o grupo dos evangélicos apenas 9% afirmaram que era em torno da possibilidade de mudança na espécie que as duas linhas de pensamentos divergem, 4 católicos, 23,5%, e 1 sem religião, 50%, também deram essa resposta.

 

É interessante notar que alunos do pós-médio não têm claro qual é o ponto de divergência entre Evolução Biológica e Criacionista, 80% dos entrevistados não sabem que a Evolução defende a mutabilidade das espécies e o Criacionismo a imutabilidade, no entanto, estão livres para combater a propagação da teoria evolutiva como inverídica (Figura 2)[3].

 

O mais curioso é saber que os evangélicos são os que mais analisam as respostas de acordo com o que pregam as igrejas, como é visível na questão que trata de divergência entre Evolução e Criacionismo, 56,67% (Figura 2) responderam que a divergência é em torno de quem criou, sendo que 81% dos evangélicos afirmaram isso.

 

É possível que a falta de conhecimento desse público esteja ligada a preconceitos religiosos, já que quanto mais religioso for o indivíduo, mais resistência ele mostrará em relação a esses conhecimentos. No entanto, uma péssima qualidade do ensino de Biologia pode viabilizar tais deficiências.

 

Genes alelos são pedaços de DNA que interagem para determinar um caráter e são encontrados aos para ocupando lócus correspondente nos cromossomos homólogos (Brown, 1998). O mesmo autor ainda cita que: genes podem sofrer mutação e dar origem a novos genes, que serão alelos dos seus correspondentes no mesmo lócus dos cromossomos homólogos. Assim é fundamental o conhecimento desse fato para julgar o processo evolutivo sem preconceito. No entanto a maioria dos indivíduos entrevistados não tem conhecimento sobre esse fato, 83,33% dos entrevistados simplesmente desconhecem (Figura 3)[4].

 

Fica evidente que esse público não tem entendimento dos eventos que conduzem a Seleção Natural, pois são necessários mais de um gene por lócus para que esse evento ocorra e, talvez, eles não se deem conta de que um gene alterado ocupará o mesmo lócus do seu alelo nativo (Brown, 1998). O mais interessante é saber que 20% deles, com Ensino Médio, acharem que todos os genes inseridos em um mesmo lócus de cromossomos homólogos são iguais. Eles simplesmente desconhecem ou não entendem os eventos de recessividade e dominância apresentado por alelos diferentes. Só 9% dos evangélicos entrevistados, 17,6% dos católicos e 50% dos sem religião sabem o que é genes alelos.  

 

De acordo com a figura 4, o maior número de entrevistado foi de pessoas que se declararam católicas[5] (56,67%), sendo seguido de evangélicos (36,67%) e 6,66% dos alunos afirmaram não ter religião, mas acreditar em Deus. Não foram identificados ateus na pesquisa, ou seja, pessoas que não acreditam em Deus não participaram da amostra, já que essa foi aleatória e dessa forma o pesquisador não pode saber qual a crença dos entrevistados antecipadamente.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A Evolução Biológica é sem duvida um tema polêmico no ensino de Biologia. No entanto, fundamental para o entendimento da vida na Terra. Uma polêmica que não vai ser resolvida com o baixo nível de conhecimento das pessoas, com relação a esse tema, e sendo julgado debaixo de preconceito religioso, como ficou evidente na pesquisa, muitos são os que julgam esse tema munidos de conceitos incorretos e influenciados por uma entidade divina.

 

As evidências apontam para a negação da Evolução Biológica entre os religiosos, quanto mais religioso for o sujeito, menos ele aceita esse fato como provável. Os preconceitos religiosos nos apontam outro dado: muitos dos que se agarra em Deus para dar suas respostas não têm conhecimento necessário para julgar os eventos que sustentam a Evolução. Esses não sabem sequer quais são as divergências entre Evolução Orgânica e Criacionismo, mas estão livres para combater Darwin.

 

Existem evidências que denunciam os julgamentos desse público com incorretos a respeito da Evolução Biológica, como ficou claro nos resultados e discussões. Os sujeitos não estão munidos de conhecimento básico e desprovidos de preconceitos religiosos para se posicionarem de maneira imparcial nesta questão, sendo assim, é mais fácil se agarrar a Deus de que conhecer as evidências do processo evolutivo.

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

BROWN, T. A.. Genética Um Enfoque Molecular. 3. Ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1999. 336 p.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

CARNEIRO, A. P. N. A evolução biológica aos olhos de professores não licenciados. Universidade Federal De Santa Catarina. Florianópolis, 2004.  137 p.

FUTUYMA, D.J. Evolução, Ciência e Sociedade. São Paulo: Editor de Livros SBG, 2002, 73 p.

LEHNINGER, A. L. Lehninger Princípios de Bioquímica. 3. ed. São Paulo. Sarvier, 2002. 974 p.

Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec). Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/Semtec, 2006.

PACHECO, R. B. C., OLIVEIRA, D.L. O homem evoluiu do macaco? Equívocos e distorções nos livros didáticos de Biologia. In: VI Encontro de Perspectivas do Ensino de Biologia. Anais. São Paulo: FEUSP, 1997, 87 p.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Para fazer citação a este trabalho utilize a bibliografia abaixo:

OLIVEIRA FILHO, Francisco Antonio de. A lógica da evolução biológica do ensino médio. Revista Científica Cognitio, on-line, Mato Grosso, V. 01, N. 01, Dez. 2015. <http://aces4r.wix.com/revistacientifica#!blank/tzzqo>. Data de acesso: 

 

 

 

 

[1] Técnico em química da UFMT, Licenciado em Ciências Biológicas pela UNEMAT, chicodeoliveira@yahoo.com.br

[2] a) Teoria que afirma que o homem veio do macaco; b) Teoria que explica a origem da vida na terra; c) Teoria que se fundamenta na alteração do material genético e na seleção natural; d) Teoria que explica a origem da terra e a da vida nesta.

[3] a) Que o homem não pode ter evoluído a partir do macaco; b) Que Deus criou a vida; c) Que o material genético estar no núcleo; d) Mutabilidade e imutabilidade das espécies.

[4] a) Sim; b) Não; c) Não sei o que é genes alelos; d) Todos os genes responsáveis por uma mesma característica são iguais.

[5] a) Católica; b) Evangélica; c) Ateu; d) Não tenho religião, mas acredito em Deus.

 

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